Na lista de contistas do livro 'VAMPIROS' da AVEC Editora, Simone Saueresing é um dos talentos da literatura fantástica brasileira que participa da publicação, a qual cedeu uma entrevista exclusiva ao Contos Sobrenaturais falando do trabalho.
Simone Saueresing nasceu em Campo Bom, no Rio Grande do Sul, estreou na Literatura em 1987. Tem vários títulos publicados de Literatura Fantástica como 'A Noite da Grande Magia Branca' (2007), 'A Estrela de Iemanjá' (2009) e 'A Máquina Fantabulástica' (1997). Também é autora da saga 'Os Sóis da América' (2013-2014).
Publicou um livro de contos 'Contos do Sul' (2012) e já participou de diferentes antologias, como 'Duplo Fantasia Heroica 3' (2012), 'Autores Fantásticos' (2012) e 'Ficção de Polpa: Aventura!' (2012).
Na 'Coleção Sobrenatural: Vampiros' da AVEC, Simone Saueresing participa com o conto "O Orquidófilo".
ENTREVISTA
CONTOS SOBRENATURAIS: Como se envolveu no projeto 'Coleção Sobrenatural: VAMPIROS'?
SIMONE SAUERESING: Aceitei um convite do organizador do volume, Duda Falcão.
CS: Quando o assunto é literatura fantástica, a crítica nacional muitas vezes pega mais pesados com os autores, nem sempre com razão, em especial com os brasileiros. Seria falta de uma crítica mais especializada (como ocorre por exemplo no cinema fantástico), ou pode ser puro preconceito? Qual sua opinião a respeito?
SS: Eu já acho que o pior mesmo é passar em branco. No Brasil já não há muito espaço para a crítica literária, sobretudo na mídia tradicional. E, no mais das vezes, essa pouca crítica não está interessada em literatura fantástica. Eu acho muito pior ser invisível do que ser mal criticado. Olha o Paulo Coelho. Eu não gosto dos livros dele, mas é o exemplo ideal. Enquanto 'O diário de um mago' estava “invisível”, ele, como autor, não tinha praticamente nenhuma expressão. Depois que ele começou a ser criticado, começou a despertar o interesse. E olha que eu não lembro de ter lido alguma crítica favorável ao texto dele! Ser criticado, para bem ou para mal, coloca o autor, ou o gênero, na mira do leitor. É claro que a gente quer ler ou ouvir que o nosso texto é bom. Mas a gente quer ser lido, mais que nada. Então, pior do que receber uma crítica negativa, é não receber crítica alguma.
CS: Acha que, mesmo que os brasileiros gostem e muito de histórias fantásticas, especialmente de conteúdo sobrenatural, que a crítica é uma das culpadas da falta de divulgação dos trabalhos nacionais (ao ponto de muitos acharem que não existe literatura fantástica brasileira)?
SS: É aquilo que eu falei. Quem não é visto, não é citado, não é lembrado. Se ninguém resenha, ninguém critica, fica complicado um livro ser lembrado. Mas tem um outro tipo de “crítica”, de “resenha”, que funciona mais do que a crítica oficial, que a recomendação dos próprios leitores. Quando 'Crepúsculo' chegou à livraria local, aqui de Novo Hamburgo, que fica há pouco mais de 40 km de Porto Alegre, apenas uma pessoa comprou um volume: eu. E isso porque gostei da capa, nada mais. O texto da contra me convenceu muito pouco. O lote foi devolvido à distribuidora praticamente intacto. Não saiu crítica, não saiu nada. Ninguém tomou conhecimento. Mas as pessoas que estavam lendo o livro começaram uma importantíssima: o boca a boca. Sem o boca a boca, você pode ter a melhor crítica do mundo, e não vai vender. Quando o livro voltou às estantes, a venda explodiu. A questão é: o que leva um livro a ser recomendado entre os leitores, e outros não? Essa é a chave que todo mundo quer descobrir. Acho que a crítica é importante para te por na mídia. Mas o livro tem que ter um “algo” que encante os leitores, senão, não funciona. Quais os livros mais elogiados? 'Em busca do tempo perdido' e 'Ulisses'. Quantas pessoas você conhece que leu, ou a obra de Prost ou a de Joyce, de maneira completa, sem pular capítulos ou ir à parte que interessa, apenas? E já que estamos falando de literatura fantástica, quais o classicões? 'Drácula' e 'Histórias Extraordinárias', talvez? Quantas pessoas de fato leram os livros? Ver o filme não vale, nem HQ, nem adaptações. Eu tenho me surpreendido com as respostas. Conheço gente bem mais jovem do que eu que sequer leu 'O Iluminado', por exemplo! São pessoas que viram o filme, e acharam que está bem assim. 'O Senhor dos Anéis', então, nem se fala. Quando vou à alguma escola conversar com alunos, costumo dizer que li a saga na minha adolescência. Os alunos se remexem nas cadeiras, felizes, abrem aquele sorrisão. Daí eu friso: “LI os livros. Na época, não haviam os filmes, ainda.” Os sorrisos se apagam. Na verdade, depois que os filmes vieram para o cinema, uma imensa maioria se contentou em ver as imagens. Podem até ter comprado os livros, mas ler? Ah, ler é outra história. Ler exige esforço imaginativo por parte do leitor.
CS: Como autor(a) fale um pouco sobre o seu trabalho, tipo de universo ficcional e criação de personagens que mais te interessa da literatura fantástica. Tem um gênero (ação, fantasia, terror...) e/ou conteúdo extra (sobrenatural, erótico...) favorito quando escreve um texto de literatura fantástica?
SS: O meu foco inicial era escrever histórias de fantasia usando como base o folclore brasileiro. Assim que monstros, fantasmas, criaturas estranhas, personagens, cenários, tudo tinha a ver com o Rio Grande do Sul e com o Brasil. E seguiu sendo assim. Eu terminei me familiarizando com esse universo e ele se tornou fácil. Contudo, tenho percebido que nem sempre ele é facilmente compreendido pelos leitores. O fantástico trabalha com símbolos e os nossos são praticamente desconhecidos. Por exemplo, se eu falar “vampiro”, todo mundo vai imaginar algum, eu não precisarei explicar muita coisa. Mas se eu falar Mãe-do-Ouro, vai ter muita gente para quem eu vou ter de explicar o que ela é, a menos que a pessoa tenha lido algum livro do Felipe Castilhos, ou 'A Noite da Grande Magia Branca', que é meu. Tirando isso, de vez em quando eu também faço uma “excursão” literária por terras de dragões e unicórnio. Eu também gosto escrever sobre esse universo. Apesar do que pensam algumas pessoas, eu não sou nacionalista. Só acho que o que é nosso também merece um olhar.
CS: Escreve histórias fora da literatura fantástica? Caso a resposta seja sim, pode falar um pouco sobre que tipo e se já tem algo publicado?
SS: Sim, de vez em quando. Alguns contos, às vezes para jornais locais, às vezes para colocar em algum dos meus blogs. Tenho experimentado a crônica, mas acho difícil. E algumas resenhas literárias. Já fiz mais, porém 2014 não foi um ano muito simples e eu deixei isso de lado por enquanto. Já trabalhei na biografia de um empresário aqui de Novo Hamburgo (o livro se chama 'Celestino Killing: pequenas histórias de uma grande vida'), textos para exposições de arte, e um romance de aventura, com fundo histórico. É uma autêntica caça ao tesouro em território das Missões Guaraníticas aqui do Sul, chamado 'aurum Domini: O ouro das Missões', que ganhou o prêmio de melhor Narrativa Longa da Associação Gaúcha de Escritores, em 2010.
CS: Já pensou em ter algum de seus personagens no cinema? Qual ou quais, de qual de suas histórias?
SS: Já, sim. Praticamente todos os meus livros e personagens foram pensados de maneira “cinematográfica”. Alguns eu gostaria de ver em desenho animado, como 'A Noite da Grande Magia Branca' ou 'Os Sóis da América', a minha saga de fantasia americana. Outros, como o próprio 'aurum Domini', eu adoraria ver como filme mesmo. Uma boa trilha sonora, bem movimentada, grandes paisagens, cenas de ação e suspense. Acho que vocês iriam gostar. Iriam gostar muito.
Visite o Blog da autora: www.soisdaamerica.blogspot.com.br
Entrevista: Anny Lucard
Muito legal ler um pouco da trajetória da autora. Sou um escritor amador e minhas idéias são quase idênticas às dela quando o assunto é imaginar do conto um filme ou desenho animado.
ResponderExcluirEspero, algum dia, chegar aos pés dessa autora e publicar tantos livros quanto.
http://confissoesdeumescritor.blogspot.com.br/